MORAN,
José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Ensino e
aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas. In: Novas tecnologias e mediação pedagógica.
Campinas, São Paulo: Ed. Papirus, 2011. Cap. 1, p. 1163.
Muitas formas de ensinar hoje não
se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, desmotivamo-nos
continuamente. Tanto professores como alunos temos a clara sensação de que muitas
aulas convencionais estão ultrapassadas. (p.11)
Tendo
em vista que há a necessidade de uma atualização na forma de ensinar nos dias
atuais, e isto ocorre por conta do surgimento das novas tecnologias da
informação, o autor inicia o seu diálogo com dois questionamentos bastante
sugestivos: “para onde mudar?” e “Como ensinar e aprender em uma sociedade mais
interconectada?” Estamos nos referindo a uma geração que desde os seus
primeiros passos já começa a ter acesso e conexões aos meios tecnológicos mais avançados
que se possa imaginar. Certamente não será tão fácil encontrar respostas a
essas interrogações. Todavia, remetendo-nos à primeira inquietação de Moran,
constataremos que os docentes de hoje têm um desafio e tanto no que tange aos
caminhos a serem trilhados para que se possa tocar adiante o processo educativo
de forma progressiva e inclusiva. A segunda questão trazida pelo autor para o
início dessa conversa tem a ver com os mecanismos a serem utilizados para que
os professores possam estabelecer este ponto em comum com os estudantes, sem
prejuízos para ambos.
O campo da educação está muito
pressionado por mudanças, assim como acontece com as demais organizações.
Percebe-se que a educação é o caminho fundamental para transformar a sociedade.
(p. 11)
Nas
últimas décadas o mundo passou por grandes transformações. Ocorreram grandes
mudanças e estas, por sua vez não deixam de ocasionar uma série de impactos na
sociedade. Por sua vez, a humanidade espera que a educação consiga não apenas
acompanhar esses acontecimentos, como também resolver os possíveis problemas
advindos pelas mudanças.
Os avanços tecnológicos, de uma forma ou de outra
não somente “aproximou” o mundo, como o inseriu ainda no mercado de consumo e
trabalho nunca visto pela humanidade. Isto faz com que se evidencie a carência
de mão-de-obra qualificada para que consiga dar conta da demanda. Não por
acaso, as grandes empresas, as mega-produtoras acabam se tornando em modelos de
gestão, empurrando as escolas e conseqüentemente a sociedade para a adesão do
modelo pedagógico industrial. Segundo pensa (RODRIGUES, 1999):
Esta geração está impulsionando transformações na
própria estrutura educacional existente. A escola tradicional já não mais
corresponde aos anseios da formação do Novo Homem (Cidadão Planetário), e toda
a sociedade impele uma mudança no paradigma da escolaridade vigente. O próprio
mercado de trabalho está passando por profunda modificação, o perfil do
trabalhador se modificou brutalmente no final do século XX. Para isso, é necessário
que os indivíduos se conscientizem acerca das novas habilidades que eles
deverão desenvolver. Em vista de todas estas transformações na própria
estrutura educacional, nas exigências do mercado de trabalho, é imprescindível
abordar os aspectos mais nobres do novo Cidadão Planetário em evolução, que é a
sua responsabilidade diante do planeta e seu senso de cidadania.
Como em outras épocas, há uma
expectativa de que as novas tecnologias nos trarão soluções rápidas para o
ensino. Sem dúvida as tecnologias nos permitem ampliar o conceito de aula, de
espaço e tempo [...]. Mas, se ensinar dependesse só de tecnologias, já teríamos
achado as melhores soluções há muito tempo. (p. 12)
Para
Moran, apesar da esperança de que por intermédio das tecnologias pudéssemos
obter respostas rápidas para a educação, isto não tem dado demonstrações de que
seja de fato assim, devido a constatação de que mesmo após tanto tempo e
recursos investidos em equipamentos sofisticados para serem utilizados no setor
educacional, os problemas permanecem e, pior, com maior densidade. Segundo o
autor, “ensinar e aprender são os desafios maiores que enfrentamos em todas as
épocas e particularmente agora em que estamos pressionados pela transição do
modelo de gestão industrial para o da informação e do conhecimento.”
Há uma preocupação com ensino de
qualidade mais do que com educação de qualidade. Ensino e educação são
conceitos diferentes. No ensino organiza-se uma série de atividades didáticas
para ajudar os alunos a compreender áreas específicas do conhecimento (ciências,
história, matemática. Na educação o foco, além de ensinar, é ajudar a integrar
ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação a ter uma visão de
totalidade. (p. 12)
De
fato, ocorre uma tendência em popularizar a qualidade do ensino em detrimento
da qualidade da educação. O autor, tomando posse das informações adquiridas ao
longo de sua formação acadêmica conceitua os dois termos de forma lúcida,
mostrando que ao passo que qualidade de ensino tem a ver com a sistematização
dos conteúdos a ser trabalhados na sala de aula, a qualidade da educação
conjuga-se com a transformação de vida das pessoas. Freire (2006), em seu
discurso revolucionário sobre o papel e o impacto da educação para a sociedade
afirma que “a educação é uma forma de intervenção... Intervenção que além do
conhecimento dos conteúdos bem ou mal ensinados e/ou aprendidos implica tanto o
esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento Freire
(2006, p. 98).” Para este renomado pedagogo, “interferir” no mundo implica
provocar, questionar e elaborar ideias que sejam suficientes para lançar as
bases para uma nova forma de vida que contemple o ser em toda a sua plenitude.
Educar é ajudar a integrar todas as
dimensões da vida, a encontrar nosso caminho intelectual, emocional
profissional, que nos realiza e que contribua para modificar a sociedade que
temos. (P. 12)
O
autor faz um alerta sobre a recorrência da preocupação com o ensino de
qualidade em detrimento da educação de qualidade. Ao passo que o ensino está
relacionado com ações mais específicas, tendo como objetivo colaborar para que
o educando compreenda determinado conteúdo por meio dos mecanismos didáticos, a
educação de qualidade prima por contemplar os sujeitos envolvidos em todos os
aspectos responsáveis pela desenvoltura deste no meio em que está inserido.
Explora as questões sociais, profissionais, psicológicas, motoras e familiares
pela compreensão de que o ser humano constitui-se de um todo complexo, não de
partes isoladas e dissociáveis. É por intermédio dessa educação de qualidade
que surge a possibilidade se formam homens e mulheres com um pensar político e
transformador capazes de promover grandes reviravoltas na sociedade moderna.
Ensinar/educar é participar de um
processo, em parte previsível – o que esperamos de cada criança no fim de cada
etapa – e, em parte, aleatório, imprevisível. (P. 12)
Continuando
sua fala a respeito dos desafios de ensinar e educar com qualidade, o autor em
estudo afirma que a educação fundamental se dá através da própria vivência, os
contatos, atitudes de cada indivíduo. Dessa forma, quanto mais nos tornamos
maduros, mais podemos evidenciar o quanto temos em aprendizagem ao longo da
vida.
Educar é colaborar para que
professores e alunos – nas escolas e organizações – transformam suas vidas em
processos permanentes de aprendizagem. (P. 13)
O
autor entende que o processo da aprendizagem é um acontecimento contínuo tanto
para professores quanto para alunos. O ser humano, no pensamento freireano,
assim como em Moran é um projeto inacabado. Ou seja, sempre está pronto para
aprender algo mais e isto lhe permite assumir posturas com noções de
criticidade e de se assumir enquanto ser político.
Nosso desafio maior é caminhar para
um ensino e uma educação de qualidade, que integre todas as dimensões do ser
humano. (P. 15)
Para
o autor, o processo da aprendizagem está muito além de uma concepção pobre a
respeito da aquisição do conhecimento. Não se trata de um acontecimento
limitado a tal ponto de contemplar somente alguns aspectos isolados da vida
humana. Pelo contrário, o ensino/educação, quando explorado em sua plenitude,
ou ainda que seja perto disso, contempla todas as áreas ou aspectos que
constituem os indivíduos. À medida que a educação cumpre seu papel neste
sentido, teremos pessoas com desenvoltura e habilidades que lhes permitam
interpretar as diversas situações que as cercam, cada contexto com seus
aspectos, as transformações sociais diversas e ainda, conscientemente se
predispõe para interferir positivamente no mundo em que está inserido.
As
mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual
e emocionalmente, pessoas curiosas e entusiasmadas, abertas, que saibam motivar
e dialogar. Pessoas com as quais valha à pena entrar em contato, porque desse
contato saímos enriquecidos. (P. 16)
Moran
atua na perspectiva de que o segredo da educação/ensino que sonhamos repousa no
fato de que se tivermos professores preparados não só tecnicamente, mas,
sobretudo emocionalmente, teremos como resultado estudantes motivados,
humanizados e socialmente preparados para conduzir os rumos de sua geração.
Uma das dificuldades atuais é
conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes de acesso, com o
aprofundamento da sua compreensão, em espaços menos rígidos, menos engessados. (P. 29)
Neste
ponto, considerando as possibilidades de haver mudanças na forma de se ensinar,
o autor propõe que nós, os profissionais da educação estejamos atentos à nova
mentalidade dos educandos. Afinal estamos nos referindo a uma nova sociedade, a
das tecnologias e seu universo variado de informações cada vez mais velozes e
em maior volume, permitindo aos sujeitos envolvidos uma acessibilidade nunca
antes visto. Tal comportamento é o indicativo de que, se quisermos que nossas
aulas alcancem os estudantes em seus aspectos sociocognitivos, responsáveis por
seu desenvolvimento de modo geral, teremos que nos adequar a essa nova
realidade da qual não há como fugir ou driblar. E isto exige do docente consciência do “inacabamento”, como diz
Freire (1996) em sua obra Pedagogia da Autonomia.
O professor, com acesso a
tecnologias telemáticas, pode se tornar um orientador/gestor setorial do
processo de aprendizagem, integrando de forma equilibrada a orientação
intelectual, a emocional e a gerencial. (P. 30)
De
acordo com o autor, o professor é um constante aprendiz que aprende enquanto
ensina e ensina aprendendo. Em Oliveira (2002) encontra-se formulada a ideia de
que o professor já traz em sua essência as habilidades por meio do processo
político-pedagógico que o credenciam às novas vivências que envolvem a
aprendizagem: "Não trazer estes
componentes à tona é deixar de perceber, entre outras coisas, a multiplicidade
de elementos políticos, econômicos, culturais, ideológicos e pedagógicos que
definem a prática do professor."
Aprendemos quando relacionamos,
interagimos. Uma parte importante da aprendizagem acontece quando conseguimos
integrar todas as tecnologias, as telemáticas, as audiovisuais, as textuais, as
orais, musicais, lúdicas, corporais. (P. 32)
Na
sociedade Pós-Moderna, não há mais espaço para apenas um tipo de saber ou saber
limitado. O que Moran coloca de maneira clara é que à medida que interagimos,
em especial no mundo da informática, abrimo-nos para as perspectivas,
permitindo-nos conhecer e experimentar as interconexões nas suas mais diversas
formas. Dessa maneira, pondera o autor sobre a importância do docente não abrir
mão de buscar estar contextualizado com as novas realidades, como já foi dito,
conhecendo as novas ferramentas que a cada instante surge no cenário da
multimídia afim de sempre levar para a sala de aula um repertório de
informações que sejam capazes de estimular a sua turma.
A educação escolar precisa
compreender e incorporar mais as novas linguagens, desvendar os seus códigos,
dominar as possibilidades de expressão e as possíveis manipulações. (P. 36)
Como foi mencionado anteriormente,
os meios de comunicação, nas mais diversas modalidades estão ao alcance de
todos. Espera-se que estes possam ser explorados em sua totalidade nos espaços
escolares, em especial aqueles em que a deficiência de material humano e
didático resultam em aulas cansativas e desgastantes. O Ministério da Educação
tem feito investimentos altos na distribuição de aparelhos tecnológicos para as
escolas públicas, por esperar que se trate de uma maneira diferenciada de levar
a linguagem da educação e do conhecimento por um mecanismo que não deixa de ser
lúdico também.
Especificamente em rede, o computador
se converte em um meio de comunicação, a última grande mídia, ainda em estágio
inicial, mas extremamente poderosa para o ensino e aprendizagem. (P. 44)
São inúmeras as possibilidades de trabalho com a
educação, com a utilização do computador conectado à internet. Além de
facilitar as produções individuais ou em grupo que abrem precedente para o
desenvolvimento social dos envolvidos, pelas noções adquiridas sobre ações em
equipe que envolve comportamentos individuais e coletivos, possibilita ainda o
contato com pessoas de outras culturas, com outros olhares e novas maneiras de
encarar a vida. O mundo virtual, se bem aplicado no contexto da educação,
representa uma ferramenta poderosa para o crescimento intelectual do estudante.
Ainda segundo Moran (2011), seja virtual ou presencialmente, a internet
oportuniza a execução de atividades que envolvem professores e alunos, em tempo
real, que tenha como foco o debate sobre uma problemática da atualidade. Dentre
os aspectos positivos da utilização da internet na sala aula, um que é bem
evidente, neste particular, está associado à economia de tempo e de espaço,
resultando disso uma maior dinâmica dos trabalhos.
O nível seguinte é auxiliar os professores na
utilização pedagógica da internet e dos programas multimídia. (P. 51)
Para este autor, é de suma importância que
professores e alunos tenham acesso aos meios eletrônicos via investimentos e
financiamentos por parte dos setores públicos, como estratégia para minimizar o
distanciamento entre as classes de maior poder aquisitivo e os que ficam à
margem dessa realidade que ainda é para poucos. Olhando para além do fator da
aquisição do equipamento, que por si só não representa avanço na qualidade do
ensino, é preciso ainda que haja a capacitação e familiarização do professor
aos recursos que lhe possam estar á disposição, visando à sua utilização
sistêmica e pedagógica para que efetivamente os propósitos sejam contemplados.
Alguns alunos não aceitam
facilmente essa mudança na forma de ensinar e aprender. Estão acostumados a
receber tudo pronto do professor, e esperam que ele continue “dando aula”, como
sinônimo de ele falar e os outros escutarem. (P.54)
Ao
se deparar com uma aula em que o professor se utiliza da internet como
ferramenta didática, na maioria das vezes os alunos confundem-na com uma aula
sem interesse, como se houvesse nenhum outro proveito que não as páginas de
relacionamento, dos games e outros da série, que para um momento de ensino como
este, talvez não surta aquele efeito esperado, principalmente se a proposta
seja alcançar outro resultado. É imprescindível que o orientador desenvolva
laços de credibilidade e confiança mútua com os seus discentes, para que posa
lograr êxito na empreitada de mantê-los ativos, buscando as conexões adequadas
e as diversas informações disponíveis, com vistas a transformar em conhecimento
os dados imersos no vasto mundo da internet. Ter a informação sem o labor da
pesquisa, da organização das ideias, das discussões em grupo de modo a inserir
o estudante no mundo do saber pleno, não implica dizer que este possui o
conhecimento. Segundo afirma Moran (2011), O
conhecimento não se passa, o conhecimento cria-se, constrói-se.
Necessitamos de muitas pessoas
livres nas empresas e nas escolas, que modifiquem as estruturas arcaicas e
autoritárias do ensino escolar e gerencial. (P. 63)
Freire
(1996) imprime o pensamento de que a “liberdade amadurece no confronto com
outras liberdades.” O sujeito livre luta por sua autonomia e pela do outro,
pois entende que apenas por este meio é que o mundo escolar pode ultrapassar as
limitações a ele impostas, seja pelo professor que tem receio do novo, seja
pelo aluno que não consegue conceber as novidades que vão surgindo ao longo do
processo educacional.
Referências bibliográficas:
MORAN,
José Manuel; MASETTO, Marcos T.; BEHRENS, Marilda Aparecida. Ensino e
aprendizagem inovadores com tecnologias audiovisuais e telemáticas. In: Novas tecnologias e mediação
pedagógica. Campinas, São Paulo: Ed. Papirus, 2011. Cap. 1, p. 1163.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da
autonomia. Saberes e necessidades à prática educativa. São Paulo: Ed. Paz e
Terra, 1996.
RAMON, Oliveira de. Informática
educativa. Campinas: Ed. Papyrus, 2002.